“É da minha personalidade.“
“Não há nada que eu possa fazer, eu sou assim.”
Será que é mesmo da tua personalidade? Será que te conheces assim tão bem? Tantas vezes dizemos que conhecemos tanta coisa como a palma da nossa mão, e tantas vezes olhamos para ela e não nos vemos. Não nos identificamos com o que fazemos ou pensamos, não conseguimos dar significado às nossas ações. Com isto não quero, nem estou a tentar pôr em causa o teu trabalho de autoconhecimento quando verbalizas “é da minha personalidade” ou “eu sempre fui assim” para justificar as tuas ações. No entanto, não são raras as vezes em que usamos estas expressões como uma leve justificação das nossas ações, entregando às mesmas quase que um diploma de impunidade. Como se não houvesse espaço para pensar, sentir ou fazer diferente.
Quando falamos em autoconhecimento é importante percebermos que o seu principal instrumento é a auto-observação. Quando paramos e refletimos sobre o que pensamos, sentimos e/ou fazemos, nem sempre estamos confortáveis com o que encontramos. Muitas vezes parece não corresponder à imagem que criamos de nós e essa conclusão é o que afasta alguns de nós deste processo. Por isso é que é importante observar-nos sem julgamento.
Apesar de não haver uma definição clara sobre o que realmente é a personalidade, há alguns aspetos comuns às várias definições que nos podem ajudar a compreender este conceito tão vasto e tão vago. A personalidade é um processo interno ao indivíduo, que envolve um conjunto de padrões de resposta consistentes e recorrentes e que lhe proporciona uma identidade.
Para ajudar-te neste processo de autoconhecimento apresento-te aqui os cinco fatores do modelo da Personalidade Big Five:
Neuroticismo: Se apresentas caraterísticas como ansiedade, depressão, mais impulsividade, mais dependência e um menor à vontade junto aos outros, é provável que pontues valores mais elevados nesta dimensão do neuroticismo. Neste fator estás mais predisposto a experienciar estados emocionais mais negativos e a compreender o mundo de uma forma mais negativa;
Extroversão: Se és mais ativo, sociável, apresentas maior afetuosidade, assertividade, propensidade para experienciar emoções positivas e aceitas riscos, é provável que apresentes valores mais elevados na dimensão de extroversão. Esta dimensão da extroversão relaciona-se com o quão comunicativo, ativo e assertivo és;
Abertura à Experiência: Se apresentas uma maior criatividade, curiosidade e valorizas os teus sentimentos, é provável que pontues valores mais elevados neste fator. A abertura à experiência relaciona-se com a tua tendência para te envolveres em novas atividades e um maior e mais vasto conjunto de interesses;
Conscienciosidade: Se tens tendência para obedecer a normas e padrões de comportamento, pensar de forma cautelosa, és decidido, confiável e motivado por objetivos, então é bastante provável que pontues valores mais elevados nesta dimensão. Este fator habitualmente representa um traço que é um bom preditor profissionalmente, uma vez que se relaciona com a organização, perseverança e controlo, e por fim;
Amabilidade: Se apresentas sinceridade, generosidade, empatia e aceitas a opinião dos outros, muito provavelmente irás pontuar valores elevados nesta dimensão, tendo esta a ver com a facilidade e qualidade dos relacionamentos que estabeleces com os outros.
Agora que tens mais informação sobre os fatores que constituem o modelo Big Five da Personalidade, podes tentar posicionar-te, de forma contínua, em cada um deles. Claro que isto não substitui uma avaliação técnica da tua personalidade, mas poderás ter agora uma maior perceção de quem realmente és e tentar remar contra a ideia fixa de que “não há nada que eu possa fazer, eu sou assim”.
Imagem Por, Flo Meissner, “The Dance of the Three” (website)
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