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A Perturbação Borderline da Personalidade: Uma Visão Geral

Em linhas gerais, ao nível do quadro clínico, tal como é mencionado no DSM-5, a Perturbação Borderline da Personalidade (PBP) pertence ao Grupo B denominado dramático-emocional e caracteriza-se por um padrão de instabilidade tanto emocionalmente como nas relações interpessoais, nos afetos e na autoimagem, acrescendo-se a marcada impulsividade e dificuldades ao nível da regulação das emoções. Devido à intensa desregulação emocional, as pessoas com sintomatologia borderline tendem a apresentar comportamentos autodestrutivos, incluindo automutilação, ideação e tentativas de suicídio. Essa instabilidade emocional também pode levar a padrões interpessoais problemáticos, com relações que variam entre a idealização e a desvalorização.

A invalidação parental e os seus efeitos na Perturbação Borderline da Personalidade

A relação entre a PBP e a invalidação parental é frequentemente discutida quer em âmbito clínico, quer a nível científico. Vários investigadores comprovaram que a invalidação parental é um fator de risco para o desenvolvimento desta perturbação. Isto ocorre porque a invalidação (frequente) das emoções da criança pode levar a uma série de problemas emocionais, cognitivos e relacionais, que são vistos como características centrais da PBP. Quando a criança não aprende a reconhecer, entender e a lidar com as suas próprias emoções de maneira saudável e adaptativa, pode vir a desenvolver padrões de pensamento e comportamento disfuncionais que se enraízam na infância e persistem na idade adulta.

Segundo o Modelo Biossocial, a invalidação parental (em conjunção com características de vulnerabilidade emocional da pessoa) na infância tem um papel fulcral no desenvolvimento da PBP. O termo surge com Marsha Linehan, no final do século XX, com a Terapia Comportamental Dialética, e consiste num padrão de comunicação baseado na negação, minimização ou desvalorização das emoções, pensamentos e experiências da criança por parte dos pais ou cuidadores primários.

Nesta perspetiva, o desenvolvimento da PBP ocorre num contexto desenvolvimental invalidante que responde de forma errática e inadequada às experiências internas da criança e enfatiza o controlo e a punição da expressão emocional negativa. As formas de invalidação incluem, entre outras, abuso físico, emocional e sexual, criticismo, minimização, punição e culpabilização do indivíduo como sendo possuidor de traços de personalidade socialmente indesejáveis.

Assim sendo, quando uma criança cresce num ambiente cujas emoções são constantemente desconsideradas ou desvalorizadas, pode apresentar dificuldade em desenvolver habilidades de regulação emocional adaptativas o que, consequentemente, pode levar a uma intensa sensação de vazio e insegurança emocional. Além disso, quando os pais ou cuidadores primários não validam as emoções da criança, a mesma internaliza que as suas emoções não são válidas ou aceitáveis. Podendo ela aprender a suprimir ou negar as suas próprias emoções, o que pode resultar em dificuldades na regulação emocional na idade adulta, um fator muito característico da sintomatologia borderline.

Conclusão

É importante ressaltar que nem todas as pessoas com PBP tiveram experiências de invalidação parental, e nem todas as crianças com experiências de invalidação parental desenvolvem a PBP, cada caso é único e por isso, a invalidação parental, tal como outros fatores de risco, não é generalizável a todas as pessoas que possuem esta sintomatologia. Além disso, trata-se de uma perturbação complexa e multifacetada que envolve a interação de vários fatores genéticos, biológicos e ambientais.

A relação entre a PBP e a invalidação parental é complexa e multifacetada. Embora a invalidação parental não seja a única causa da PBP, desempenha um papel significativo no seu desenvolvimento e reconhecer essa relação é crucial para o seu tratamento. Neste sentido, a psicoterapia é frequentemente uma parte essencial do processo de recuperação, ajudando os indivíduos a entender e superar os efeitos da invalidação parental nas suas vidas. Com tratamento adequado e apoio emocional, muitas pessoas com esta perturbação podem aprender a regular as suas emoções, desenvolver relacionamentos interpessoais saudáveis e a melhorar a sua qualidade de vida.

Cristiana Silva

Aluna de Mestrado em Psicologia

Imagem Por, Edvard Munch, “Death and the Child [Døden og barnet]” (Kunsthalle Bremen)

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