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Ano novo, vida nova. E, o que eles dizem…é o que todos dizemos. Mas eu trago uma  frase melhor: Ano novo, eu novo. É muito comum fazermos promessas na entrada  de um novo ano e escrever detalhadamente em papel no último dia do ano os nossos  desejos/objetivos.  A  cada  12  promessas  que  fazemos,  há pelo  menos  uma  relacionada ao nosso eu — e estas costumam ser as mais difı́ceis, pois o eu remete nos a outro mundo que podemos explorar, algo que poucos sabem e que faz com que  as promessas sejam vagas/instáveis. Grande parte de nós quer investir no nosso eu,  contudo não sabemos por onde começar.

Começando pelo eu, o que é isto do eu? Representa a nossa consciência enquanto  seres, nela  inseridos os  nossos  pensamentos,  crenças,  perceções,  que  vão  crescendo/desenvolvendo a partir das nossas vivências e experiências ao longo da  nossa vida. E, por isso, é uma responsabilidade imensa fazer promessas sobre o nosso  eu, pois este representa parte das nossas experiências. Nascemos, portanto, como  uma tábua rasa que vai sendo trabalhada através das nossas experiências, vivências,  observação,  entre  outros,  surgindo  pessoas,  momentos,  fases  que  vão  sempre  contribuir para o desenvolvimento do nosso eu.

Assim,  chegamos  à conclusão  que  não  é possível  criar  um  melhor  eu,  mas  sim  trabalhá-lo e desenvolvê-lo através de comportamentos e  técnicas essenciais que  irão nos permitir viver em harmonia com o nosso eu.

Estando  sempre  em  constante  mudança,  é esperado  perguntarmo-nos  se  conhecemos  genuinamente  eu  de  hoje  — não  o  de  ontem,  mas  sim  o  de  hoje.  Provavelmente não, porque temos tendência em pensar que conhecemos tudo sobre  nós,  mais  pelo  que  ouvimos  dizer  através  da  nossa  famı́lia  e  amigos,  mas  não  percebemos  essas  constantes mudanças  que  acontecem  em  nós  e  que  nos  fazem  estar  em  constante  crescimento.  Então,  como  posso  trabalhar  o  eu  se  eu  não me  conheço, se eu não sei o que penso nem o que sinto e se não sei nada sobre ele?

O  caminho  começa aqui, através  do  autoconhecimento,  no  momento  em  que  conseguimos  parar  de  estar  no  piloto  automático  e  fazer  o  trabalho  de  autoconhecimento.  A  maioria  das  pessoas  tem  interesse  em  saber  mais  sobre  a  pessoa que acabou de conhecer, algo lógico e perfeitamente normal, além de termos  sempre  algo  novo  para  aprender  sobre  a  pessoa, mesmo  tendo  passado  anos  de  relação. Somos seres sociais, é inevitável isso acontecer. Porém, porque pouco nos  interessa saber sobre nós? Porque tomamos como garantido que já sabemos tudo  sobre nós e atrapalha-nos querer saber mais? Normalmente assumir que sabemos  tudo sobre nós resulta até alguém começar a  fazer muitas perguntas sobre nós e  assumimos que  são  demasiado  difíceis para  responder.  Quando  nos  perguntam  sobre  os  nossos  defeitos  ou  qualidades,  não  é  uma  pergunta  difícil,  nós  é  que  tendemos a encalhar à segunda/terceira qualidade.

E é aqui que percebemos que as coisas são mais complexas do que imaginamos e  que  o  autoconhecimento  é um  trabalho  contínuo,  pois,  se  não  nos  conhecemos  verdadeiramente, quem irá?

Existem imensas técnicas que podemos adotar. Há pouco falei no piloto automático,  mas não te expliquei como ele funciona e o quão fácil ele pode surgir como hábito na nossa vida, atrapalhando assim o nosso autoconhecimento. Usamos muito esta  expressão quando já fazemos algo de uma forma tão automática, que nem paramos  para pensar no que  fazemos realmente. É muito  fácil, no nosso quotidiano, entrar  em modo automático e fazer a nossa rotina, sem pensar e desfrutar do que fazemos. Quando chegamos ao final do dia, não conseguimos descrever detalhadamente o que  aconteceu, porque é sempre o mesmo. Sim, é verdade, é sempre o mesmo mas o teu  humor, as tuas emoções e os teus pensamentos não são sempre os mesmos. Por isso,  é  sempre  aconselhado que  façamos as  coisas  com  calma  e  consciência  do  que  estamos  a  sentir/pensar.  Uma  técnica  muito  usada  para  estes  feitos  é a  escrita  terapêutica, onde  tu podes registar o que estás a pensar no momento, através de  texto, tópicos, entre outros, permitindo que tenhas a perfeita consciência do que se  passa  em  ti no  momento.  Parar  é  extremamente  importante  para  o  autoconhecimento.

Além  disso,  é  importante  que  respondas  a  questões  guia  na  tua  jornada  do  autoconhecimento, tais como:

  • Qual é a minha forma de agir comigo e com os outros?
  • O que me faz realmente feliz?
  • O que os outros pensam de mim? Concordo?
  • Quais são os meus pontos fortes e fracos?
  • Que marca eu quero deixar no mundo? Qual é o meu propósito?
  • Como eu descrevo a minha roda da vida, de 0 a 10? (Saúde, Trabalho, Lazer, Relacionamentos, Económica, etc.)
  • Quais são os pensamentos negativos mais comuns a meu respeito?

Muito provavelmente, responder a estas questões será difícil, todavia o que  verdadeiramente  importa é a  tua  aventura  em  saber  mais  sobre  ti,  explorares/aprenderes um  pouco  sobre  quem  és,  os  teus  pensamentos  e  emoções.

Normalmente  acreditamos  que  trabalhar  o  autoconhecimento  é suficiente  para trabalharmos o nosso eu, mas de que adianta saber mais sobre nós se  não  aplicamos  isso  a  nosso  favor,  para  nos  estimarmos  mais? E por  isso, é bastante importante perceber que o maior aliado do autoconhecimento é o  autocuidado.  Muitas  das  vezes  incompreendido,  o  autocuidado  não  se  resume apenas a algo do fı́sico. Se tu és alguém que pensa que o autocuidado  é só cuidar do corpo, então informo-te que, infelizmente, fazer uma skincare pouco ou nada nos regenera por dentro. Mas calma, não precisas de deixar  de  cuidar  do  teu  corpo, porque  também  é  importante,  mas  não  te  podes  esquecer da tua mente. Pois, como enuncia a célebre citação latina, Mens sana  in corpore sano (“uma mente sã num corpo são”).

Existem  vários  tipos de  autocuidado,  para  além  do  físico,  tais  como  o  emocional,  o  pessoal,  social  e  por  aı́ fora.  No  entanto,  eu  não  considero  necessário  dividi-los  em  tantas  categorias,  dado  que  eles  devem  ser  trabalhados  em  conjunto  e  não  focar  apenas  no  fı́sico  ou  emocional,  por  exemplo.

São  pequenos  comportamentos  que  tu adotas  contigo  e  com  os  que  te  rodeiam  que  te  vão estimar como alguém  prioritário  na  tua  vida. A  forma  como pensamos sobre nós e das nossas capacidades é também uma forma de  autocuidado, se estes forem positivos e de grande estima Permitires-te errar,  perdoar  e  relaxar  também  são  formas  de  autocuidado  fáceis  e  que  não  ocupam grande tempo do teu dia. O autocuidado não tem necessariamente  uma  tarefa,  pode  ser  um  pensamento,  um  pequeno  comportamento,  uma  escolha que vão estando presentes na nossa vida e é importante ressaltar que não importa o formato, importa sim a forma como vais estimar quem és.

No entanto, para aqueles que tendem a afirmar que não têm tempo, deixo-te  seis técnicas que podes adotar e que irão contribuir para que te estimes mais:

  1. Gratidão: Isto é, sem dúvida, uma das técnicas que mais tenho utilizado nos últimos tempos. Agradecer é gratuito e tão saudável para nós; agradecer só quando algo de grandioso acontece ou quando nos oferecem algo, não é suficiente para dizer que praticamos o ato da gratidão. Para incorporá-lo no teu quotidiano experimenta agradecer (quer de manhã, quer ao final do dia) as coisas mais básicas, tais como a sandes de queijo que comeste ou o sol que estava hoje.
  2. Encoraja as tuas capacidades: Começa a identificar, diariamente, algo que te orgulhas em ti ou no que fizeste naquele dia. Isto é muito importante no processo de manter uma estima por ti.
  3. Mantém em contacto com as pessoas que te são próximas: Esta técnica mais social, remete-nos a mandar uma mensagem ou chamada a um amigo, diária ou semanalmente, pois, por mais estranho que pareça, manter em contacto com os teus amigos e familiares é também uma forma de autocuidado.

Se  tu fazes  parte  do grupo  de  pessoas  que não  se importa  de  dedicar  uns  minutos  ou  umas  horas  do  teu  dia  para  ti  mesmo,  deixo-te estas  três  sugestões de autocuidado:

  1. Observar: Mas observar o quê? Não sei, mas observa. O objetivo é parar um pouco e desfrutar do que está à tua volta, independentemente do que seja.
  2. Define uma rotina de sono saudável: É fundamental para um bom funcionamento do nosso corpo e da nossa mente, importante definir uma boa rotina de sono.
  3. Faz o que gostas: Tenta, pelo menos um dia por semana, fazer algo de que gostas, seja isto ver um filme, ir a um museu, etc., pois é muito importante que mantenhas os teus hobbies e faças coisas de que gostes.

Nota  Final
Lembra-te que o teu eu é trabalhado através das tuas experiências e das tuas vivências, então permite-te viver uma vida plena e feliz, estimando sempre quem és. Mas também não te esqueças de que ninguém é o Super-Homem ou obrigado a conseguir tudo sozinho e está tudo bem com isso, pois, não existe nada mais forte do que saber pedir ajuda junto de um profissional.

Por: Bárbara Fernandes (Estudante de Psicologia Clínica)


Obra por Claude Monet, “Bain à la Grenouillère

2 thoughts on “O Novo Eu

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