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A Perturbação Obsessivo-Compulsiva (POC), caracteriza-se por dois grupos de sintomas, as obsessões e as compulsões.

As obsessões são pensamentos, imagens ou impulsos que ocorrem de forma recorrente e que invadem a consciência da pessoa. A pessoa tem noção de que estas obsessões são absurdas, que não fazem sentido e que são um produto da sua mente; isto é o que distingue o quadro obsessivo dum sintoma de psicose onde há perda de contacto com a realidade. Apesar desta consciência, a pessoa não consegue evitar estes pensamentos, normalmente, de conteúdo desagradável e gerador de ansiedade. A atividade mental está, por isso, em oposição ao Eu, havendo um conflito que levam a pessoa a tentar suprimir/ignorar as obsessões.

Na tentativa de suprimir/ignorar surgem as compulsões. Sendo estas comportamentos/atos mentais repetitivos e ritualizados que a pessoa sente que não consegue controlar. Estas surgem como estratégia para diminuir a ansiedade e mal-estar produzido pelas obsessões. A curto prazo a pessoa sente-se aliviada depois da compulsão, mas a longo prazo potencia involuntariamente a permanência das obsessões, ajudando a perpetuar um ciclo.

O alívio sentido após a compulsão cria uma associação mental entre a obsessão e a compulsão. Ao realizar a compulsão, a pessoa sente-se (ilusoriamente) em controlo das suas obsessões.

As obsessões mais frequentes estão relacionadas com as temáticas de:

Contaminação
Caso de Exemplo: “Será que vou apanhar uma doença por ter tocado naquilo?”.
As compulsões mais associadas à contaminação são os rituais de limpeza (como a lavagem incessante das mãos) e o evitamento de situações onde possa existir perigo de contaminação, por exemplo hospitais.

Dúvida patológica
Caso de Exemplo: “Será que desliguei o forno?”.
A dúvida patológica pode originar rituais de verificação (verificar várias vezes se ativou um alarme) e evitamento de situações novas que possam impedir ou interferir com a realização das verificações.

Impulsos agressivos ou sexuais
Caso de Exemplo: “E se eu desse um murro a esta pessoa?”.
Os impulsos agressivos ou sexuais podem impulsionar rituais mentais (como rezas, contagens ou repetições de frases) e evitamento de pessoas associadas à obsessão.

Necessidade de simetria ou precisão
Caso de Exemplo: “Será que aquilo está milimetricamente perfeito?”
A necessidade de simetria ou precisão pode gerar rituais de ordenação e evitamento de ambientes menos organizados.

A maioria das pessoas já teve algum tipo de pensamento intrusivo e/ou comportamento repetitivo que, racionalmente, compreendem não fazer muito sentido. O que distingue estes pensamentos da POC, é que a ultima é apenas diagnosticada quando as obsessões e as compulsões interferem e ocupam significativamente o dia-a-dia da pessoa, reduzindo a sua qualidade de vida.

A POC é atualmente considerada uma categoria à parte das Perturbações de Ansiedade no DSM-5, devido às suas especificidades. Dentro do espetro da Perturbação Obsessivo-Compulsiva estão incluídas ainda:

  • Perturbação de Acumulação: acumulação excessiva de objetos, independentemente do seu valor real ou da sua necessidade.
  • Perturbação Dimórfica Corporal: preocupação exagerada e intrusiva sobre imperfeições reais ou imaginárias na aparência física.
  • Tricotilomania: puxar/arrancar cabelos ou pelos de qualquer zona do corpo sem razão aparente (por exemplo, motivos estéticos).
  • Perturbação de Escoriação: ato repetitivo de coçar, picar, beliscar ou raspar a pele que provoca feridas.

É comum existir alguma confusão entre a Perturbação Obsessivo-Compulsiva (POC) e a Perturbação de Personalidade Obsessivo-Compulsiva (PPOC). A segunda é uma perturbação da personalidade que se caracteriza por extremo perfecionismo, ordem e organização. Pessoas com PPOC sentem necessidade de impor os seus padrões rígidos aos outros e ao ambiente em que se rodeiam. Apesar de ambas as perturbações partilharem de algumas semelhanças, estas são condições distintas. Enquanto na POC há uma consciência da perturbação (de que algo “não está bem”), na PPOC essa consciência pode não existir. A POC inclui obsessões e compulsões específicas, já a PPOC apresenta uma tendência para o controlo de uma forma geral. A motivação para o comportamento na POC advém da necessidade de evitar obsessões específicas, na PPOC advém da necessidade de priorizar o controlo, perfecionismo e a ordem.

As teorias psicodinâmicas afirmam que as obsessões e as compulsões são sinais de um conflito inconsciente que a pessoa tenta suprimir. Estes conflitos surgem quando um desejo inconsciente, geralmente relacionado com um impulso sexual ou agressivo, diverge de um comportamento socialmente aceite. Pensa-se que a experiência da raiva, sem a expressão da mesma, é reforçada em pessoas com POC, sendo mais propensas a suprimir ou internalizar a raiva, traduzindo-se em elevados padrões morais. Esta supressão está associada a uma crença de que “maus” pensamentos (impulsos agressivos latentes) têm um significado moral e que aumentam o risco de passagem ao ato (agressão). Tornar consciente este conflito interno pode reduzir a sintomatologia.

Catarina Abrunhosa

Psicóloga

Imagem Por, Yayoi Kusama, “Flowers C”

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