Abril é conhecido como o mês do autismo, a Organização das Nações Unidas (ONU), a 18 de dezembro de 2007, sinalizou o dia 2 de abril como o Dia Mundial das Consciencialização do Autismo (World Autism Awareness Day). Esta data surgiu pela necessidade de sensibilizar, ensinar e educar a sociedade em geral, para a Perturbação do Espetro do Autismo. Desde então, no 2 de abril e agora, mais recentemente, por todo o mês de abril, são feitas várias campanhas sobre o tema.
Como referi num artigo anterior, as Perturbações do Espetro do Autismo (PEA) são perturbações do desenvolvimento que afetam indivíduos em diferentes níveis (comportamental, linguístico e social) e em diferentes magnitudes1APA, 2013.; no espetro do autismo, com base no manual da APA, existem três níveis de severidade em que a necessidade do suporte do indivíduo vai aumentando gradualmente. Neste artigo o nosso foco será no autismo de baixo funcionamento, ou autismo de nível 3.
O autismo de baixo funcionamento é o nível mais grave de todo o espetro, também conhecido como autismo severo, o sujeito tem dificuldade em comunicar-se quer de forma verbal como não verbal, apresentando também comportamentos repetitivos e restritos (que prejudicam de forma substancial o seu quotidiano), bem como dificuldades de aprendizagem e realização de atividades de vida diária2APA, 2013.. Neste nível do espetro é também muito comum haver comorbilidade com outras psicopatologias, como o défice cognitivo ou síndrome de x-frágil. Estes fatores levantam outra questão: Será o autismo a condição mais grave destes sujeitos ou é a existência destas outras psicopatologias? São estas comorbilidades, muitas vezes, o que dificulta progressos na evolução destes casos.
Os critérios de diagnóstico de autismo não mudam conforme o seu nível, no entanto, quando estamos perante um autismo de baixo funcionamento os sintomas estes são mais exacerbados, são alguns exemplos:
- Dificuldade em comunicar-seEstas pessoas podem não ter comunicação verbal ou falarem, muitas vezes, por ecolalia (repetições do que ouviram), carecem também de uma comunicação não verbal, não sendo capazes, por exemplo, de ter uma expressão facial correta, nem fazerem uma interpretação correta da dos outros;
- Comportamentos repetitivos, estereotipados e restritosMuitas vezes, são verificados comportamentos sistemáticos como balançar o corpo, abanar as mãos, rodopiar, atirar objetos (por exemplo, atirar uma bola sempre para a mesma direção), são comportamentos aparentemente sem função e com uma duração elevada;
- Dificuldades de interação social:Este aspeto já manifestado em parte pelas dificuldades de comunicação se demonstra através do desinteresse pelo outro, utilizando os demais apenas para o seu próprio proveito, por exemplo, dirigir-se a uma figura de referência apenas quando tem sede.
A intervenção nestes casos deve ser mais frequente e terapias como: terapia da fala, terapia ocupacional, psicomotricidade e terapia comportamental ABA (terapia de referência, comprovada cientificamente para as PEA) deverão ser primordiais.
A nível da comunicação, poderá ser necessário utilizar-se recursos visuais e até implementar um sistema aumentativo e alternativo de linguagem, como, por exemplo, o PECS (sistema de comunicação por troca de imagens), estes sistemas procuram transmitir informações de maneira mais clara e compreensível.
A nível comportamental destaca-se a terapia comportamental ABA. “A análise aplicada do comportamento é uma abordagem à modificação de comportamentos socialmente relevantes com base em princípios de aprendizagem cientificamente comprovados”3Kearney, 2009, 21.. De forma geral, esta intervenção pretende substituir comportamentos, aumentando os comportamentos adequados e diminuindo os disruptivos.
Sujeitos com PEA, de nível 3, precisam tanto de intervenção como de integração/inclusão. Ninguém gosta de ser colocado à margem e é importante não colocar as pessoas com esta perturbação (ou outra qualquer) à margem. O trabalho começa nas escolas, mas não deve acabar nas escolas.
Daniela Vieira
Psicóloga Clínica & Educacional. Autora do artigo “Autismo“ e “Autocontrole Emocional“
Também Gostarás:
- Autismo: Compreendendo a Perturbação do Espetro do Autismo A Perturbação do Espetro do Autismo (PEA) é uma Perturbação do Desenvolvimento que afetam indivíduos em diferentes níveis – comportamental,...
- Autocontrole Emocional: O Fator Crítico para a Saúde Mental 95% das decisões tomadas, são feitas com base nas emoções. Logo, um autocontrolo emocional/competências socioemocionais é crucial...
- Relação de Casal: Em Busca do Mais Profundo A relação de casal é um caminho em construção e reconstrução (um caminho direito com longas retas ou repleto de...
- Guia para Perturbação de Hiperatividade ou Défice de Atenção PHDA é uma perturbação do comportamento infantil, de base genética, onde ocorrem várias alterações neuropsicológicas, que provocam alterações...
Mais
Relações Amorosas: Quando a Crise Não é o Momento de Exceção
Alguns casais que recebo em terapia descrevem a crise permanente como uma “inundação emocional”, porque não sabem o que estão a sentir.
Autorreflexão Diária: Atingindo o Autoconhecimento Profundo
A autorreflexão diária surge assim como uma ferramenta valiosa para a promoção da saúde mental, exploremos então a relevância desta prática.
Reflexão deste Ano e Resolução para o Ano Novo
O ano que passou certamente trouxe desafios, triunfos, momentos de reflexão e oportunidades de crescimento pessoal.
Motivação e Autodisciplina: Prepara-te Para o Réveillon
A batalha entre motivação e disciplina pode ser representada com duas tias na festa de Ano Novo: a Sra. Motivação e Sra. Autodisciplina.
O Derradeiro Presente de Natal: As Expetativas e Pressões Familiares
O Natal é associado a uma época de alegria, paz, amor e família. Mas será que é sempre assim – pode o natal vir com angústias e expetativas?
Terapia nas Crianças: Vantagens, Desafios e Como Funciona
A terapia e psicologia infantil (nas crianças) tem como finalidade o apoio na resolução dos problemas e/ou a melhoria do seu potencial.