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Na esquina da imensidão, observo e só me vejo a mim. À minha volta, antes, durante e depois do que quer que seja, estão dezenas de pessoas de sorriso aberto e mão estendida à espera do que eu lhes posso dar.

Mas eu hoje sinto-me fraca. Fraca de forças, de objectivos, de vontade e de luta. Porque hoje, em vez de dar, eu preciso de receber.

E foi quando tomei essa decisão e dobrei a esquina, que vi começar a desaparecer, um por um, os componentes dessa gente que formava uma multidão. As suas mãos, espetadas e firmes, rapidamente caíram, moles e inertes, ao lado dos corpos que, rapidamente também, num compasso que desconfiei inato, começaram a recuar, até desaparecer, começaram a desaparecer, até sobrar apenas eu.

Percebi que quando temos algo para dar, há muita gente à nossa volta para receber. Mas que, ao invés, quando precisamos que alguém nos dê alguma coisa – carinho, afecto, conforto ou uma palavra amiga – a fila diminui, até nada restar.

O que move o ser humano? Onde está a empatia?

Talvez se calçássemos os sapatos uns dos outros, as pedras que ficam no caminho formassem, quem sabe, um tapete sobre o qual fosse confortável caminhar. Porque nós, somos um todo. Porque a vida é um ciclo. Um ciclo que, como é próprio, se repete a uma dada altura, fazendo do fim um novo começo.

Hoje, eu. Amanhã, tu. Nunca digas desta água não beberei…

Nádia Carnide Pimenta

Escritora e Autora dos textos “A Casa Vazia“, “Cartas“, “Vitória“, “Não Te Percas de Quem És” e “Cálice da Loucura

Imagem Por, René Magritte, “Not to Be Reproduced [La reproduction interdite]” (Museum Boijmans Van Beuningen)

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