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A saúde mental tem, ao longo dos anos, constituído um dos focos de interesse na sociedade. Sempre que falamos em saúde mental, referimo-nos ao bem-estar emocional e psicológico sentido pelo indivíduo. De igual modo, associamos a uma forma positiva de estar e avaliar a nossa vida, de conseguirmos trabalhar de forma produtiva e contribuir de forma significativa para a sociedade onde estamos inseridos.

No decorrer da vida e por variadas razões, as pessoas experienciam substâncias com um forte poder de dependência física e/ou psicológica. Ninguém é totalmente imune a problemas do foro mental, existindo diversos fatores internos e externos a cada um que o afetam, nomeadamente o consumo de drogas.

A saúde mental é algo demasiado subjetivo, sendo vivida pelos indivíduos de forma diferente e particular, pelo que a reação destes a este tipo de consumo e como este mesmo consumo afeta o seu psíquico diverge, sendo os efeitos negativos mais sentidos por uns do que por outros.

De que forma o consumo de drogas afeta a saúde mental?

Para explicar a relação entre ambos, precisamos entender os efeitos do seu consumo no organismo do ser humano.

A associação entre ambos é explicada pelo facto do consumo prolongado de drogas alterar o equilíbrio neuropsíquico do cérebro. Ao serem ingeridas essas substâncias, as mensagens enviadas para o cérebro são mais lentas e distorcidas da realidade, o que, muitas vezes, leva o sujeito a agir e pensar de forma diferente de que se estivesse sóbrio.

As substâncias que interferem com o estado emocional exercem uma atração pela experimentação da mesma, ativando diretamente o sistema de recompensa do cérebro, levando o indivíduo a experienciar sensações prazerosas.

Sempre que falamos em doença mental associada ao consumo de droga, devemos ter em consideração que pessoas com doenças mentais estão mais suscetíveis de apresentarem problemas relacionados com drogas, da mesma forma que pessoas com dependência manifestam maiores quadros de perturbação mental.

Sempre que o indivíduo não consiga se adaptar a situações complexas do seu quotidiano, não manter o seu equilíbrio emocional e psíquico, altere a sua forma de viver, ignoram convívio social, estamos perante uma situação de perturbação mental. O seu consumo pode afetar de forma significativa o seu comportamento, pensamentos, sentimentos e emoções, levando os indivíduos (dependendo da substância consumida) a maximizar umas emoções e minimizar outras.

Apesar dos efeitos agradáveis sentidos por estas substâncias durante alguns minutos ou horas, existe uma série de efeitos considerados importantes. A curto prazo, o indivíduo experiencia sintomatologia ansiosa, depressiva, mudanças de humor e até psicose. Apresenta, de igual forma, frequência cardíaca mais elevada que o habitual, sudorese, medo de perder o controle dos seus atos, irritabilidade, cansaço e comportamento impulsivo. O uso continuado destas substâncias causam, a longo prazo, casos severos de ansiedade, depressão, paranoia, esquizofrenia, bem como outras perturbações mentais.

Principais problemas psiquiátricos causados pelo consumo de drogas:

  • Depressão: quadros de imensa tristeza e perda de motivação;
  • Ansiedade: tremores, palpitações e taquicardia;
  • Bipolaridade: alternância entre episódios de euforia e depressão, podendo esta alteração ocorrer de forma repentina;
  • Sintomatologia psicótica: esquizofrenia e mudanças de personalidade.

O que fazer perante esta situação?

As perturbações causadas pelo consumo de drogas pode ser muitas vezes subestimada pelos profissionais de saúde, na medida em que não consideram o indivíduo como dependente, mas como frágil (agindo por fraqueza).

O tratamento e intervenção em pessoas dependentes de drogas deve ser multidisciplinar (médicos, psicólogos, psiquiatras, nutricionistas, outras especialidades dependendo do tipo de consumo e do grau de severidade). Esta intervenção também estará dependente de uma avaliação realizada num primeiro momento, para verificar o nível de risco em que o sujeito se encontra e o seu grau de motivação e envolvimento no processo de mudança.

Torna-se, acima de tudo, fundamental olhar para o indivíduo na totalidade e não como o resultado de um consumo, contribuindo de forma mais positiva para um tratamento e intervenção não discriminatória, tornando-o mais ativo no seu processo de mudança.

Tânia Carvalho

Psicóloga Clínica e Autora do artigo “Depressão Sazonal

Imagem por, William Hogarth, “Gin Lane” (British Museum)

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