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Os hábitos são muito mais do que meros comportamentos. Como seres humanos, nós somos aquilo que fazemos (repetidamente), daí devemos escolher cuidadosamente aquilo que repetimos. E isto nos leva aos hábitos: o que são; porque existem; porque são tão difíceis de parar, e; como cada um de nós pode formar melhores hábitos.

Explicando os Hábitos (O que são?)

Um hábito é um comportamento/ação que fazemos de forma repetida e inconsciente. Ou seja, os hábitos acabam por ser algo que fazemos de forma automática e que o nosso cérebro já associa a um gatilho e recompensa.

O Porquê dos Hábitos

Existe uma razão por detrás dos hábitos e tanto os bons como os maus hábitos surgiram por um motivo e função. Segue-se dois exemplos:

  • Quando eu reclamo [hábito], diante de uma situação stressante [gatilho], eu sinto-me aliviada [recompensa];
  • Quando eu como em demasia [hábito], ao sentir-me ansiosa [gatilho], eu sinto-me mais em paz [recompensa].

Com estes exemplos, e a ilustração acima, conseguimos compreender que todos os comportamentos, hábitos, ações (sejam prejudiciais a ou não) têm uma funcionalidade. No meio disto tudo, o nosso cérebro cria ligações que nos fazem interiorizar que: se eu tiver o comportamento X, irei obter o Y como recompensa, então irei repetir – transformando assim os nossos comportamentos em hábitos. E estes hábitos que formamos podem, no fundo, nem ser coisas que nos fazem bem (ex. fumar, reclamar, procrastinar, etc.) mas por nos fazerem “sentir bem” no momento, o nosso cérebro já associou o comportamento ao sentimento positivo.

Há que também referir a associação que surge entre o problema/situação [gatilho], a solução [recompensa], e o que traz a solução [hábito]; pois, uma vez praticada repetida e continuamente, chegará uma altura em que as coisas tornar-se-ao automáticas e nem precisaremos de pensar na ação.

A Dificuldade de desistir dos hábitos negativos

Tendo os hábitos negativos um prazer associado (comemos um hambúrguer → sentimos prazer imediato), encontramos o oposto em alguns dos hábitos positivos (exercício físico → dor). Isto leva a que o nosso cérebro fuja do exercício e nos leve ao que gostamos. E até começarmos a associar o hábito que não temos (exercício físico) ao prazer que este pode trazer, é um processo que exige comprometimento.

Enquanto não associarmos o hábito positivo a uma consequência positiva, iremos sempre optar pelo hábito negativo, pois, este é o que nos dá uma emoção positiva. E o simples fato de descrevermos os benefícios de fazer o exercício físico, por exemplo, pode trazer-nos uma emoção positiva, aproximando-nos deste comportamento.

É muito importante trabalhar neste ponto porque realmente as emoções são os principais gatilhos.

E antes de seres duro contigo próprio: está tudo bem em querermos a recompensa de nos sentirmos bem. No entanto, é só um caso de entre o gatilho/estímulo e a recompensa, substituirmos um hábito negativo por um mais positivo, (ex. Quando me sinto ansiosa, invés de comer excessivamente, ligo para alguém que amo) ajudando a continuar a trazer a recompensa e dando-nos simultaneamente um hábito mais positivo.

Enquanto não quebrares o ciclo, o hábito continuará a ser o mesmo, porque para o meu cérebro aquilo que fazes está a dar resultado, e por isso não existe um motivo para não continuar a fazê-lo. Pois, comportamento recompensado é comportamento repetido!

Criando e Mudando Hábitos

Ao sabermos de tudo isto, deparámo-nos então com a pergunta, “O que podemos fazer quando percebemos que precisamos de mudar os nossos hábitos?”:

  1. Perceber Quem Queres Ser
    Às vezes pensamos que o nosso objetivo passa por ter um determinado hábito, (ex. fazer exercício a hora x). Mas, no fundo, o objetivo não é aquele hábito, mas sim a pessoa em quem tornar-nos-emos na busca para adquirir aquele hábito. Pensar nas coisas desta forma é melhor, pois, mesmo se a primeira estratégia que tentamos aplicar não resultar, não iremos desistir deste processo de mudança, visto que queremos muito mais do que mudar de comportamento – queremos mudar quem somos, como nos vemos e aquilo que somos a longo prazo!

    Não é o hábito que queres ter, é a pessoa em quem te queres tornar.
    O hábito é o caminho, não o resultado!

    Não comecemos então por pensar no hábito, mas sim em quem queremos ser, e a partir daqui podemos começar a pensar e praticar (passo a passo) os hábitos que esta pessoa que queremos ser faz. Invés de ter como ponto de partida o objetivo de comer de forma mais saudável e fazer exercício físico; podemos começar pelo nosso objetivo de ser uma pessoa mais saudável – o que por sua parte implica hábitos diferentes. Recorrer a esta forma de pensar, nos centra desde o início ao nosso objetivo (mesmo que tenhamos de mudar como lá chegamos), pois, há sempre algo que prevalece e isso é a pessoa em quem quero-me tornar!
  2. Muda Como Olhas Para Ti
    O nosso cérebro é congruente relativamente à pessoa que nós vemos que somos. Se acreditamos muito em algo, os nossos comportamentos passam a ser congruentes com aquilo que acreditamos. Eu, por exemplo, durante anos achava-me pouco saudável, o que acabou por moldar muitos dos meus comportamentos. Logo, antes de conseguir sequer mudar os meus comportamentos, tive que começar a olhar-me de uma forma diferente.

    Nós mudamos a partir da forma que nos encaramos.
  3. Toma a Decisão
    Não virá nenhuma força exterior que ir-te-á motivar e ajudar a dar o primeiro passo. A decisão de fazer diferente está nas tuas mãos e começa/acaba contigo. Há que decidir e não deixar que nada abale a tua decisão. Às vezes pensamos que não conseguimos algo porque estamos desanimados, mas apesar do estado de espírito em que nos encontramos (que pode ser o mais justificável) a decisão parte sempre de nós e uma decisão tão grande como a mudança não se faz com um pê atrás. A decisão está nas tuas mãos!!
  4. Mesmo Objetivo, Estratégia Diferente
    Tenho uma amiga que me chamou para correr com ela todas as semanas. Eu tentei, mas não funcionou para mim; prefiro fazer exercício como agachamentos do que estar a correr. Com isto, no entanto, eu não coloquei de lado a necessidade de fazer exercício na minha busca de ser uma pessoa saudável – simplesmente mudei de estratégia, dado que quem quero ser não mudou. Muitos de nós, ao invés de tentar estratégias diferentes, acabamos por erradamente desistir na crença de que o hábito não é para nós – ressalvando, mais uma vez, a importância de quem nos queremos tornar.
  5. Consistência e Confiança no Processo
    Se fizermos apenas 1% durante 365 dias, seremos uma pessoa completamente diferente no final deste processo. Não é uma questão de fazer com muita intensidade, mas sim de fazer repetidamente, pois assim, no final do ano teremos melhorado imenso e estamos habituados ao novo comportamento; diferente de se fizermos uma mudança muito grande e drástica, que não conseguimos suportar.

    A mudança brusca não é sustentável.
    Consistência é melhor que intensidade. E Quando Eu falhar?

    Levanta-te, aprende com o erro e retoma a jornada no dia a seguir!! É normal falharmos, pelos mais variados motivos que sejam. E invés de nos punirmos, temos que normalizar como lidamos com estas pequenas falhas, sem dramatizar ou esperar pelo próximo mês/segunda-feira para voltar. Temos só de analisar o que provocou este desvio e volta no dia seguinte.
  6. Faz do Imaginável, Visível
    Quanto mais clareza tivermos da importância do determinado hábito, mais motivação e persistência existirá, sendo que sabemos o porquê da mudança que faço. Para visualizar isto fisicamente podemos, por exemplo, utilizar um Vision Board (um quadro onde colocamos os nossos sonhos e que olhamos diariamente para o que está nele escrito).
  7. Dicas na prática
    • Para incluir um hábito positivo na tua rotina, ele precisa ser muito evidente (sendo isto desde estar realmente à tua frente); sendo alguns exemplos: se quero começar a ler, coloco então o livro na mesinha de cabeceira, e; conviver com pessoas com o comportamento que eu ambiciono ter. Esta proximidade, desde o livro, as pessoas, ajudam a facilitar este processo de ter novos hábitos.
    • Querendo deixar um hábito negativo, podes começar por esconder, tornando então (por exemplo, comer chocolates) em algo mais difícil; o que leva o cérebro a evitar isto (comer chocolates) visto que isto dá muito trabalho.
    • Muda uma coisa de cada vez. Se tiveres uma lista de hábitos que desejas mudar, escolhe o que tem maior prioridade e o que se começares ajudar-te-á com todos os outros. Se quiseres, por exemplo, ter mais hábitos matinais, o primeiro hábito é o de acordar mais cedo, ajudando-te então a mudar todos os outros. É bastante válido querer mudar imensas coisas, mas é melhor começar um por um e deixar o efeito dominó fluir.

É importante começar a analisar as pessoas que queremos ser, o objetivo que queremos alcançar, saber dos hábitos que podem estar a impedir de evoluirmos e que hábito aproximar-nos-a. E muito mais do que estar motivado é estar decidido, disciplinado e comprometido, não pelo que és hoje mais, sim, pelo que queres ser amanhã.

Petra Tavares

Psicóloga, Coach e Mentora. Autora do artigo “Quando o Inconsciente afeta o Presente

Imagem Por, Hieronymus Bosch, “The Garden of earthly delights [Le Jardin des délices]” (Museo del Prado)

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