|| ◷ Tempo de leitura: 4 Minutos ||

A palavra trauma provém do grego “traumatos”, que significa ferida. O trauma psicológico pode ocorrer quando se vivencia diretamente um evento que envolve a morte, risco de vida e/ou ameaça a integridade física e psicológica do próprio ou de outros. A estes eventos dá-se a designação de acontecimentos (potencialmente) traumáticos e estima-se que ao longo da vida, 70% da população já vivenciou um ou mais, tais como violência, morte inesperada de um ente querido, abuso sexual, incêndios, acidentes.

Importa referir que estar exposto a um acontecimento traumático por si só, não é sinónimo de vir a padecer de uma perturbação psicológica, estando esta probabilidade dependente da combinação de vários fatores. Devemos então considerar os: Fatores protetores (ex, ter uma rede de apoio e suporte); Fatores de risco (ex, experiências adversas precoces); Duração (se é um evento único, como um acidente de viação ou um assalto, por exemplo; ou se são eventos perpetuados ao longo da vida, como negligência emocional e violência física), e a; Causa (acidental e/ou catástrofe natural ou causa humana e premeditada).

Estima-se que ao longo da vida, 70% da população já vivenciou um ou mais acontecimentos traumáticos.

É comum experienciar mal-estar psicológico e reações de stress (choque, medo, problemas de sono) após um acontecimento traumático, embora a maioria das pessoas recupere no espaço de 1 a 3 meses. Quando tal não sucede, podemos estar a entrar no campo da patologia.

Existem várias perturbações psicológicas relacionadas com o trauma – a Perturbação Aguda de Stress, Perturbação de Stress Pós-Traumático e Perturbação de Stress Pós-Traumático Complexo são algumas – sendo alguns dos sintomas identificáveis (não são exclusivos de um quadro traumático):

  • Ansiedade;
  • Problemas de sono;
  • Alterações de memória;
  • Estado de alerta e vigília constante;
  • Dificuldades de regulação emocional;
  • Visão negativa persistente sobre o próprio, os outros e o mundo;
  • Dificuldades em relacionar-se e em sentir-se próximo dos outros;
  • Evitamento de pessoas, lugares e situações que despertam memórias, pensamentos ou emoções associadas ao acontecimento traumático.

Quando ocorre trauma, o processamento natural do cérebro encontra-se sobrecarregado e o processo de cura é dificultado. No que diz respeito ao seu tratamento, as investigações comprovam a eficácia da Terapia EMDR e consideram-na uma abordagem de primeira linha com inúmeras vantagens (acesso a memórias que possam estar bloqueadas – algo que a terapia pela fala não possibilita; obtenção de resultados num menor espaço de tempo comparativamente com outras abordagens; menor risco de evolução do quadro).

EMDR (Eye Movement Desensitization and Reprocessing) significa Dessensibilização e Reprocessamento por Movimentos Oculares é uma terapia da autoria da psicóloga Francine Shapiro, publicada em 1989. A terapia reproduz num ambiente seguro e controlado (contexto clínico) o processamento natural do cérebro e permite que este processe eventos de forma adaptativa e saudável.

Quando falamos de trauma, devemos considerar a existência de um senso de insegurança e perigo iminente, onde tudo e todos são uma possível ameaça, o que gera um estado de alerta, vigília e desconfiança por parte da pessoa que sofre. As conclusões do passado (proveniente do/s acontecimento/s traumático/s) são estendidas e generalizadas a todas as situações do presente, até às que são neutras ou positivas. Com o EMDR é possível ressignificar vivências, conclusões e atribuir novos significados ao que aconteceu, estabelecer um senso de segurança e um lócus de controlo interno (sensação de que se é agente ativo da sua vida, que se pode proteger e escolher em quem confiar), eliminar sintomatologia traumática, e por sua vez, o sofrimento.

Ainda, o passado deixa de ser presente e as gavetas temporais que antes estavam emaranhadas, são arrumadas e passam a ser tempos distintos, onde o passado é mesmo isso: passado. O passado não é esquecido, mas sim ressignificado, sendo até possível que este continue a ser uma memória sombria e triste, mas que já não perturba nem impacta o dia a dia.

Atrevo-me a dizer que o EMDR muda e salva vidas. É importante investirmos na nossa Saúde Mental. Sem ela não temos saúde, e consequentemente, não temos (qualidade de) vida.

Ana Braga

Psicóloga e Terapeuta EMDR

Imagem Por, René Magritte, “Memory [La Mémoire]”

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Imagem da pintura de Paul Gauguin intitulada "Arearea" onde temos um clima tropical que neste contexto representa a evolução (evoluí) Previous post A Conjugação da Evolução
Imagem por Maxim Fomenko, "La Pieta" onde neste contexto representa Next post Caminhos da Desilusão: Erros de Amor e Superação