A Play Therapy pressupõe a presença de algumas atividades que podem ser consideradas brincadeiras com a criança que se constituem como uma forma de se comunicar. Neste sentido, a Play Therapy pode ser definida como uma relação dinâmica e interpessoal entre a criança e um terapeuta que lhe possibilita o acesso a brinquedos e facilita o desenvolvimento de uma relação de segurança e com liberdade para se expressar e explorar o seu eu (sentimentos, pensamentos, experiências, comportamentos) através do brincar, atividade natural do desenvolvimento e crescimento da criança1Landreth, G. (2012). Play Therapy: The Art of the Relationship. New York: Taylor & Francis. 2Jayne, K. & Ray, D. (2014). Therapist-provided Conditions in Child-Centered Play Therapy. Journal of Humanistic Counseling, 54, 86-103..
De uma perspetiva desenvolvimental, as crianças pequenas tendem a ter um pensamento concreto e, por isso, a sua capacidade de expressar pensamentos complexos e sentimentos através das palavras é ainda diminuta.
Desta forma, a Play Therapy tem sido considerada uma ferramenta importante para lidar como um vasto leque de dificuldades emocionais, sociais e académicas de diversas culturas e sob a orientação de várias abordagens3Davis, E. & Pereira, J. (2013). Combining reality therapy and play therapy in work with children. International Journal of Choice Theory and Reality Therapy, 33 (1). 78-86.. É uma forma do terapeuta responder às necessidades específicas de cada criança, sendo então um veículo de comunicação e, no qual são usados diversos materiais que têm significado direto ou simbólico dos seus sentimentos, pensamentos e experiências difíceis de colocar em palavras.
O brincar é uma atividade voluntária, motivadora, dirigida à criança e que envolve flexibilidade na escolha de como é usado. Esta atividade, envolve a componente física, mental e emocional da criança no seu processo criativo, sendo um processo essencial à aprendizagem e à socialização. É através do brincar que a criança internaliza regras e papéis sociais (ex. “brincar às professoras”, “brincar aos pais e às mães”, etc.), bem como desenvolve funções psicológicas como atenção, memória, controlo comportamental, entre outras. É através do brincar que a criança vai progredindo no processo de desenvolvimento.
Apesar de os adultos conseguirem pôr em palavras os seus pensamentos, sentimentos, ansiedades e problemas pessoais, as crianças não se conseguem expressar tão bem através das verbalizações. O brincar para a criança é o equivalente às verbalizações para os adultos. A dinâmica de expressão e veículo de comunicação diferem nas crianças, mas as expressões emocionais (medo, satisfação, raiva, frustração, alegria, etc.) são semelhantes às dos adultos. Os brinquedos são usados como palavras pela criança e o brincar é a sua linguagem.
A criança pode ter sérias dificuldades em descrever verbalmente o que sente ou pensar. Contudo, quando lhe é permitido, na presença de um adulto compreensivo, empático e sensível, consegue revelar sentimentos através dos brinquedos e materiais que escolhe. Ao compreender o que a criança projeta no brincar, o terapeuta recebe indicações que lhe dão a oportunidade de entrar no mundo interior da criança. Assim, para trabalhar com sucesso com crianças é necessário que o terapeuta ajuste a sua mentalidade para formas menos verbais e mais experienciais. Além disso, o mero facto de o terapeuta estar disposto a falar a língua da criança pode dar a sensação de respeito que, eventualmente, a criança nunca sentiu.
O brincar pode ser, também, um meio de acesso ao inconsciente da criança, já que os brinquedos são escolhidos como veículos de projeção de significados usados pela criança para a expressão de desejos e impulsos para o consciente, dando-lhe significado e simbolismo.
Ao perceber quais os brinquedos que a criança escolhe para brincar ou o momento em que a criança muda de uma brincadeira para outra pode dar ao terapeuta indicadores importantes do que se passa no mundo interno da criança. Um exemplo ilustrativo: “Os pais da Maria estão muito entusiasmados pela chegada do filho mais novo que irá nascer em breve. Estão preocupados com o facto de a Maria não demonstrar nenhum interesse, curiosidade ou entusiasmo com a chegada do irmão. A Maria chega ao consultório e pega num boneco e em todos os objetos relacionados com ele (roupas, biberões, chupetas…) e coloca-os no caixote do lixo”.
Por fim, a construção da relação terapêutica também pode ser feita através da Play Therapy. Muitas das crianças que vêm à terapia não querem lá esta, todavia uma vez que o terapeuta é um adulto divertido, que brinca com a criança, esta relação pode ser mais facilmente construída, ainda mais quando a dificuldade que leva a criança à consulta é ter dificuldades no relacionamento interpessoal 4Kottman, T. (2011). Play therapy: basics and beyond. Virginia: American Counseling Association.
A play therapy é divertida e os terapeutas que a usam são adultos divertidos que realmente se interessam pelo que a criança está a fazer e a sentir, o que torna o processo terapêutico, por si só, mais eficaz.
Imagem Por, Charles Hunt, “Children acting the ‘Play Scene’ from “Hamlet,” Act II, Scene II” (Yale Center for British Art)
Notas de rodapé[+]
↑1 | Landreth, G. (2012). Play Therapy: The Art of the Relationship. New York: Taylor & Francis. |
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↑2 | Jayne, K. & Ray, D. (2014). Therapist-provided Conditions in Child-Centered Play Therapy. Journal of Humanistic Counseling, 54, 86-103. |
↑3 | Davis, E. & Pereira, J. (2013). Combining reality therapy and play therapy in work with children. International Journal of Choice Theory and Reality Therapy, 33 (1). 78-86. |
↑4 | Kottman, T. (2011). Play therapy: basics and beyond. Virginia: American Counseling Association. |
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