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A investigação demonstra que desde o nascimento as crianças procuram a relação com o outro, isto é, o estabelecimento de um vínculo com uma figura de referência. Esta ligação emocional forte a um cuidador primário é crítica para o desenvolvimento social e emocional saudável da criança.

Até aos dias de hoje, o psicólogo, psiquiatra e psicanalista britânico John Bowlby é conhecido como o pai da Teoria da Vinculação juntamente a psicóloga norte-americana Mary Ainsworth, que investigou a relação entre mãe-criança no Uganda e desenvolveu, posteriormente, um método para avaliar os tipos de vinculação conhecida como a “Situação Estranha”.

Bowlby acreditava que os primeiros laços formados pelas crianças com os seus cuidadores têm um impacto tremendo que permanece ao longo da vida. Ele sugeriu que este vínculo também serve para manter a criança perto da mãe, melhorando assim as suas hipóteses de sobrevivência. Do ponto de vista evolutivo, os bebés que estavam biologicamente predispostos a permanecer perto das suas mães tinham menos probabilidades de serem mortos por predadores, e foi por esta razão que Bowlby se referiu à proteção contra predadores como a “função biológica” do comportamento de vinculação. Bowlby considerava os bebés como predispostos especialmente para procurar as suas figuras de vinculação em alturas de ameaça ou angústia. Neste contexto, a vinculação é considerada uma característica normal e saudável dos seres humanos ao longo da vida, e não um sinal de imaturidade que precisa de ser ultrapassado, como muitas vezes é interpretado pela sociedade. Além disso, foi descoberto que os bebés também se vinculam a mães abusivas, o que sugere que o comportamento não é conduzido somente por associações agradáveis.

Segundo Bowlby, a criança vê a figura de vinculação como um “porto seguro” para regressar em tempos de angústia. Desta forma, a criança não procura um objeto (a mãe, por exemplo), mas sim um estado de tranquilidade e sensação de proteção que a permita explorar livremente e saciar a sua curiosidade natural, até que alguma ameaça apareça e ela volte a procurar a segurança oferecida pela mãe. De forma resumida, foi definido que as relações de vinculação podem seguir quatro padrões:

  • Vinculação segura
  • Vinculação insegura-ambivalente
  • Vinculação insegura-evitante
  • Vinculação desorganizada

Quando a vinculação é segura, a criança confia que a sua figura de vinculação estará disponível e responderá às suas necessidades quando for necessário. Por outro lado, quando a vinculação é insegura, a criança sente falta desta confiança. Assim, uma criança segura vai construir um modelo mental de um cuidador responsivo e de confiança, e de si mesma como merecedora de atenção e amor. Por outro lado, uma criança insegura verá o mundo como um lugar perigoso, onde as pessoas devem ser encaradas com cuidado e vê-se a si própria como não merecedora de atenção e amor. Para além destes, existe ainda a vinculação desorganizada, visível principalmente em crianças de pais com perturbações psicológicas graves, como, por exemplo, esquizofrenia, onde há rejeição do pensar e do sentir.

Indivíduos com um estilo de vinculação inseguro apresentam um modelo negativo de si e positivo dos outros, manifestando uma elevada ansiedade e um baixo evitamento face à proximidade. Em criança tiveram as suas necessidades respondidas de modo irregular e inconsistente, sentindo necessidade por vezes de protestar (e.g. gritar, fazer birra) para serem ouvidos e às vezes, mesmo assim, não tinham as suas necessidades garantidas. Por isso, a sua perceção do mundo e dos outros é que estes são imprevisíveis e que o carinho e o conforto nem sempre são garantidos. Quando confrontados com dificuldades, são dificilmente confortados, pois acreditam que poderão ser deixados sozinhos com as suas frustrações novamente. Na ausência de outras relações significativas estáveis, constantes e acolhedoras, estes indivíduos podem se tornar people pleasers (pessoas que tentam sempre agradar os outros) para garantirem serem aceites e amados.

Por outro lado, indivíduos com vinculação evitante possuem um modelo positivo de si e negativo dos outros, minimizando as suas perceções subjetivas de angústia ou de necessidades sociais, rejeitando defensivamente a necessidade ou o desejo de relacionamentos próximos. Afinal de contas foram crianças negligenciadas, tendo tido, na maioria das vezes, as suas necessidades e sinais de desconforto ou de desejo de contacto ignoradas, ou rejeitadas. Estes indivíduos podem tornar-se solitários, não procurando contacto com outras pessoas, podendo ser hostis e agressivos, uma vez que não acreditam ter influência nos outros e muito menos que serão compreendidos. Desta forma, na regulação emocional e no comportamento interpessoal manifestam um baixo nível de ansiedade, mas um elevado evitamento de proximidade, decorrente das expectativas negativas que têm dos outros. Apresentam um elevado sentido de mérito pessoal, negando o valor das relações íntimas e exacerbando a estima pela autonomia e independência.

Por fim, indivíduos com estilo de vinculação desorganizada mostram modelos negativos de si e dos outros. Em criança foram, na maioria das vezes, negligenciados e quando eram atendidos era de forma violenta e abusiva. Estes indivíduos cresceram com elevado receio dos seus pais e do meio, vendo o mundo e os outros como uma fonte de perigo e ameaça. Reconhecem-se como não merecedores do amor dos outros, manifestam uma elevada ansiedade e evitamento, mas possuem um desejo consciente de contacto social inibido por medos associados às suas consequências. Assim, na regulação emocional e no comportamento interpessoal, são indivíduos que apresentam uma elevada dependência dos outros, contudo, devido às expectativas negativas que têm, evitam a intimidade para impedirem o sofrimento de um eventual abandono ou rejeição.

Catarina Abrunhosa

Psicóloga Clínica e Autora dos artigos “Psicopatia & Sociopatia” e “Perturbação Obsessivo-Compulsiva

Imagem Por, Peter Paul Rubens, “Honeysuckle Bower

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