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Falar sobre relações amorosas é complexo. Mas pode (e deve) ser alicerçado na ciência. Na ciência psicológica. No estudo das relações humanas: comportamento, pensamento, emoção e interação entre influências do “exterior” (relações com a família, trabalho, comunidade) e influências mais “internas” (personalidade, história pessoal e relacional, traumas), por exemplo.

Temos vários investigadores que se dedicam ao estudo das relações de casal. As perguntas são muitas:

  • Como fazer um relacionamento funcionar?
  • Como se constrói intimidade emocional?
  • O que mantém o desejo dentro da relação?
  • Por que razão é que as pessoas traem?

Muitas são as questões sobre as quais nos poderíamos debruçar, mas hoje vamos falar sobre a construção da casa que é o relacionamento. O relacionamento quer-se casa. Gosto particularmente de usar esta metáfora porque à casa estão normalmente associados sentimentos de segurança, conforto, prazer, privacidade, liberdade, entre tantos outros. Casa é lugar de pertença. De crescimento. De relações. De conflito. De medo, mudança, de sonho, de esperança. De dúvida. Diria que todos nós, mesmo individualmente, somos casa-em construção, a vida toda. Não somos alheios às transformações que acontecem à nossa volta. E não somos os mesmos cada vez que essas transformações acontecem. E ainda bem!

Gottman, investigador e psicólogo clínico americano, tem conduzido várias investigações para compreender aquilo que, de facto, melhora as relações entre os casais. Dessas investigações resultou aquilo a que chamou Sound Relationship House, estabelecendo o paralelismo entre um relacionamento seguro e uma casa com diferentes andares:

  1. Construir mapas de amor;
  2. Partilhar carinho e admiração;
  3. Virar-se para a outra pessoa ao invés de se afastar;
  4. Perspetiva positiva;
  5. Gerir conflitos;
  6. Transformar sonhos em realidade, e;
  7. Criar significado partilhado.

E juntamente a estes sete andares temos dois pilares que os sustentam:

  1. Confiança, e;
  2. Compromisso.

Olhemos então para cada um deles com atenção, à luz do que Gottman escreveu e os apontamentos de alguns investigadores.

Construir Mapas de Amor

Tudo começa aqui. Podemos dizer que a construção do mapa do amor é uma espécie de guia para o mundo da outra Pessoa. Assenta na exploração de quem é, do que gosta, do que valoriza, do que sonha, do que pensa sobre a vida, sobre o mundo. Do como se ocupa. É importante que o casal (ou futuro casal) encontre momentos onde possa fazer este tipo de perguntas. Que consiga adotar uma postura de genuína curiosidade. Com mente aberta e respeito para que a outra pessoa se sinta confortável em partilhar partes da sua vida.

Partilhar carinho e admiração

Todos precisamos de nos sentir valorizados. Verbalizar que se gosta da outra pessoa, do seu sentido de humor, da sua capacidade de se adaptar às circunstâncias mais difíceis, de que seja cuidadosa (ou qualquer outra coisa que seja para ti motivo de admiração) ajudar-te-á a criar um ambiente de maior proximidade e recetividade.

Virar-se para a outra pessoa ao invés de se afastar

Lidar com emoções desagradáveis é difícil. Lidar com conflito é difícil. E é difícil, sobretudo, pela forma como interpretamos, como damos significado àquilo que acontece. No entanto, em momentos de desafio é importante que ao invés de te afastares (porque é doloroso, porque não sabes o que dizer, porque tens medo), te sentes com a pessoa parceira e expresses a tua disponibilidade. Mesmo que seja para estar ali. Estas ações criam um espaço seguro onde é possível expressar o que sentem. Também em momentos mais triviais: mostrar que podes substituir a pessoa naquela tarefa (que habitualmente é dela), porque percebes que hoje está aborrecida, dormiu pouco, etc.

Perspetiva positiva

Diminuir a crítica o máximo possível. Mesmo quando a pessoa parceira não tem o comportamento que esperas, mesmo quando as coisas não correm de acordo com aquilo que gostarias: há sempre outra perspetiva. Pensa nela antes de tecer qualquer crítica.

Gerir Conflitos

O conflito faz parte de qualquer relação. É uma expressão da individualidade, da diferença. No fundo, da riqueza de sermos quem somos e de nos relacionarmos. O objetivo não é terminar com o conflito, mas aprender a geri-lo. Aqui a comunicação é fundamental: ser o mais clara possível; dar espaço ao que a pessoa parceira tem para dizer; aprender a não escalar uma discussão e a encontrar estratégias de autorregulação emocional. As pequenas roturas – quando a outra pessoa diz/faz algo que magoa – podem e vão existir, mas a grande questão estará sempre na forma como se procura reparar essa rotura.

Transformar sonhos em realidade

Ajudar a pessoa parceira a alcançar os seus sonhos – esperanças, aspirações e desejos que são parte da sua identidade e dão propósito e significado à sua vida. Quaisquer que sejam. Partilhar a vida, construir um relacionamento saudável, implica desejar para a outra pessoa o melhor. Implica estar disponível para apoiá-la naquilo que a faz sentir-se mais próxima de si mesma.

Criar Significado Partilhado

É muito importante a construção de “uma cultura de casal”: onde existem símbolos, rituais que expressam a identidade construída pelas duas (ou mais) pessoas na relação. Pequenos rituais – como ver um filme todas as sextas ou conversar todas as noites antes de dormir – são essenciais para reforçar a ligação e o compromisso. Também a valorização dos papéis desempenhados e definição de objetivos comuns ajudam a construir este senso de “equipa”. Rituais, Regras, Objetivos e Valores são dimensões de grande importância.

Por último, mas não menos importantes, os pilares que sustentam estes andares:

  • Confiança, enquanto aspeto central da intimidade (que não existe sem espaço para a vulnerabilidade, para uma comunicação honesta e expetativa de compreensão), e;
  • Compromisso, (que se traduzirá em ações concretas para assegurar o bem-estar da pessoa parceira, da própria pessoa e do “projeto comum” que é a relação).

Adriana Bugalho

Psicóloga

Imagem Por, Gustav Klimt, “Fulfillment, Lovers” (Museum of Applied Arts)

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