A capacidade de uma criança pequena se autorregular, ou seja, de regular as suas próprias emoções de forma autónoma e completamente independente é mais difícil do que todos nós imaginamos.
Primeiro vamos entender o que é a capacidade de autorregulação: é a capacidade de compreender e gerir as nossas reações e os nossos comportamentos a coisas externas ou a sentimentos internos que acontecem no ambiente à nossa volta. Ser capaz de regular as suas reações a emoções fortes, ser capaz de se acalmar depois de uma situação perturbadora, controlar os impulsos, dirigir a própria atenção para uma tarefa específica, são alguns dos exemplos do que é a “autorregulação”.
Esta capacidade de autorregulação é uma das tantas competências que se adquirem com o tempo, conforme a criança vai crescendo e desenvolvendo-se. Por isso, é que as emoções em crianças até aos 5 anos, são vividas de forma bastante intensa e tão diferente dos adultos. Além de que, as suas competências de comunicação não são ainda as mais adequadas, o que dificulta todo o processo, pelo que a única forma que as crianças conhecem bem para comunicarem as suas frustrações é o choro.
Mas, para além do avanço do desenvolvimento, as crianças desenvolvem esta capacidade de autorregulação através das relações afetuosas e responsivas das suas figuras significativas e mesmo através da observação da capacidade de autorregulação do próprio adulto, replicando como o adulto é capaz de gerir as suas emoções em momentos de raiva e frustração. Mais uma prova de que somos os modelos para a vida das nossas crianças. Desta forma, se não estamos satisfeitos com o comportamento das crianças, observemos primeiro aquilo que lhes estamos a transmitir e a retribuir.
Assim sendo, desta capacidade de autorregulação surge um aspeto fundamental para os mais pequenos: a corregulação emocional.
A corregulação emocional é “emprestarmos” o nosso equilíbrio emocional à criança, para que também ela consiga construir o seu. Neste processo existem três aspetos preciosos: a empatia, a conexão e a validação de emoções. Primeiramente, em situações de stress, não esquecer que estamos diante de um Ser Humano em desenvolvimento e que, aquela reação é a única que ainda conhece e na qual precisa de um adulto capaz para o orientar nesse sentido. Posteriormente, conectar-se à criança no momento da crise, não a deixando só ou ignorando-a. O contacto visual e físico gera na criança uma sensação de proteção e conforto que funcionam como bases de apoio que a ajudarão a encontrar o seu equilíbrio. Não esquecendo a importância, por parte do adulto, da existência de uma boa dose de paciência e serenidade. Após existir uma certa empatia e de haver um acolhimento da reação da criança com carinho e compreensão, surge a validação das emoções que pode ser feita por uma pequena conversa em que se nomeiam as emoções que a criança sentiu e que estas mesmas emoções poderão aparecer muitas outras vezes, mas que poderão e precisarão de serem controladas.
Assim, a corregulação emocional é a porta de entrada para que a criança consiga, cada vez mais, lidar com as suas próprias emoções e seja capaz de se acalmar em momentos de total frustração. Por isso, se as crianças sentem, vamos sentir com elas.
Imagem Por, Winslow Homer, “Snap the Whip” (Butler Institute of American Art)
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