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A palavra Mindfulness vem do termo budista Sati, que simboliza um foco/atenção no presente e uma invocação a estar consciente e atencioso. Partindo então do termo budista, obtemos o conceito de mindfulness que se refere a três fenómenos: consciência; atenção, e; relembrar. Partindo de uma visão compreensiva da natureza humana, o mindfulness também se destaca como o centro da meditação. A prática de mindfulness é, no budismo, encarada como um modo de ser/estar numa vida em que o sofrimento é inevitável. Divergindo da perspetiva oriental, a psicologia ocidental acaba por encarar o mindfulness como uma forma de reduzir o sofrimento da doença/mal-estar psicológico.

Numa perspetiva da psicologia, o mindfulness define-se como a consciência que emerge ao prestarmos atenção ao presente de uma forma particular, com propósito e não julgadora1Jon Kabat-Zinn (1994). Esta tem por base quatro componentes fundamentais (a): intencionalidade; curiosidade; foco no presente, e; a já referida ausência de julgamento. Aplicada no seio da psicologia clínica, o mindfulness permite alterar a relação que cada indivíduo tem com os seus pensamentos e emoções.

Tal como compreender em que o mindfulness consiste, também é útil compreender o oposto. O mindfulness não é: distração; supressão da experiência emocional; supressão da expressão; evitamento; ruminação; relaxamento; ter a mente vazia; estar parado; parar as emoções; copiar como Siddhartha Gautama (mais conhecido como Buda) se sentava, etc.

Podemos ainda dirigir a neurociência para compreender o impacto do mindfulness. A prática da meditação envolve imensas regiões cerebrais, nomeadamente2Tang, Holzel, & Posner, 2015: Região do córtex cingulado anterior e corpo estriado, para o controlo da atenção; Regiões pré-frontais, límbicas e corpo estriado, para a regulação emocional, e; Região da ínsula, córtex pré-frontal medial, córtex cingulado posterior e pré-cúneo, para o processamento autorreferencial. Posteriormente, outros estudos revelaram que a prática de mindfulness alterou as estruturas cerebrais responsáveis pela empatia e pela auto-observação, tornando-as mais espessas.

O mindfulness pode ser utilizado e colocado em prática em cada uma das nossas vidas, ajudando-nos então a melhorar o sistema imunitário e reduzir sintomas de stress e ansiedade. Exercícios de mindfulness diários como:

  • Comer de modo a obter a experiência completa através de prestar atenção a pequenas coisas como a textura, sabor e as sensações que a comida traz ao teu paladar;
  • Respira de forma focada, em que com os olhos fechados, fazes uma inspiração profunda e expiração lenta, permitindo-te prestar atenção a sensação que vem com o teu inspirar/expirar;
  • Caminhar e permitir-te submergir na experiência e nas mais subtis sensações, como os teus pés a tocar no chão, o movimento dos teus braços, o que vês e ouves ao teu redor, e;
  • Praticar a gratitude através duma reflexão (escrita ou oral) sobre as coisas pelas quais estás grato por, permitindo-te assim focar nas coisas positivas e ajudando a melhorar o teu humor.

Muito do mindfulness passa por estar presente no momento, sem qualquer julgamento. A prática do mindfulness pode ser feita em contexto clínico, para diversas perturbações (desde PHDA até a Perturbação Bipolar) independentemente da idade do paciente e também pode ser utilizada num contexto fora da terapia, através da meditação e os exercícios acima mencionados. Até porque, como Buda concluiu após sair do palácio em que o seu pai construiu para ele, não há nada como estar em contacto com a essência do que é ser humano, neste processo iremos claramente nos depara com o sofrimento, mas se não o fizermos jamais conheceremos tudo que há de belo.

Joana Santos

Psicóloga Clínica e Autora do artigo “Brainspotting

Imagem Por, Henri Matisse, “La danse (I)” (Museum of Modern Art)

Notas de rodapé

Notas de rodapé
1 Jon Kabat-Zinn (1994)
2 Tang, Holzel, & Posner, 2015

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