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Numa época em que tanto se fala sobre evidência científica e novas práticas na psicologia, a terapia de esquemas é uma abordagem integrativa a ter em conta, que visa responder às dificuldades encontradas pela terapia cognitivo comportamental em casos mais desafiantes, como perturbações de personalidade aliada a técnicas de integração com episódios da vida diária e o corpo.

Aplicações

Os clientes costumam vir com queixas enquadradas na dinâmica de ansiedade ou depressão. Ainda assim, saliento o principal sinal de alarme: o facto de começar a não existir uma integração convergente entre o pensamento, a emoção e o comportamento. Ou seja, o comportamento torna-se numa resposta ao pensamento disfuncional, sendo a emoção adaptativa. Ora é fácil julgar as emoções como incorretas, no entanto, elas derivam das necessidades emocionais básicas não estarem a ser satisfeitas, sendo que estas se suprem a partir das relações que estabelecemos e são essenciais para uma boa saúde psíquica. Na base das necessidades emocionais não terem sido satisfeitas, entre elas, a segurança, estabilidade, competência, autonomia, identidade, liberdade de expressão e limites realistas, existem vários tipos de experiências precoces que aumentam a probabilidade de desenvolver esquemas desadaptativos:

  • Traumatização;
  • Frustração tóxica de necessidades;
  • Supercompensação de uma necessidade – fornecer uma dose excessiva de algo, que devia ser com moderação, e;
  • Internalização seletiva ou identificação com outros significativos – da experiência de pensamentos, sentimentos, experiências do outro como se fosse do próprio. Como alguém privado emocionalmente, com pais frios, pode ter este traço presente ou, em vez disso, ser exigente e sentir-se intitulado, sobrecompensando (por exemplo, se me sinto culpado, tento projetar essa culpa em outros).

Explicando o Esquema

Um esquema funciona como uma lente, através da qual a realidade é interpretada e guia as respostas. Mas levanta-se a questão de que será que o que funcionou numa determinada etapa terá sucesso em outros momentos do nosso ciclo de vida? Talvez já não sejam tão aplicáveis, entrando em conflito com a necessidade de consistência cognitiva, ou seja, a aparente necessidade de manter uma visão estável do próprio e do mundo, mesmo que não esteja adaptada. O esquema segue estas condições:

  • Tem um tema persistente;
  • Comprimir memórias, cognições, sensações corporais e emoções;
  • Prender-se com a relação do próprio e do próprio com outros;
  • Desenvolvimento durante infância ou adolescência, e;
  • Ser algo disfuncional até um certo grau.

Pode surgir a questão, “Mas não tenho a certeza se o que sinto é normal, se é uma fase ou quando passo a precisar de ajuda?” Convém esclarecer que nem tudo que não é adaptativo é perturbado. Existe uma linha contínua, desde o adaptativo ao subclínico, que são sinais a estar atento, apesar de não serem relevantes para diagnóstico. Ao passar para o ponto de perturbado, isto já é um indicativo de patologia mental que está a acontecer. Para um exemplo, que passa por estes níveis de pensamento, podemos utilizar o perfecionismo:

  1. Começamos com, “Tenho orgulho no que faço”;
  2. A seguir temos o subclínico com, “Sinto que tenho de trabalhar nas coisas até elas ficarem certas”, e por fim;
  3. O perturbado com “Não consigo deixar de trabalhar em algo até estar perfeito, mesmo que já passe do ponto em que satisfaça o que era necessário no início.”

Nem todos os esquemas são baseados em trauma infantil ou abuso. Na verdade, uma pessoa pode desenvolver o esquema com experiências repetitivas, com efeito cumulativo – por exemplo, com sobreproteção, podendo apresentar o esquema de dependência. O aspeto disfuncional do esquema torna-se mais aparente num período em que as mudanças visíveis externas aparentam abrandar, deixando de poder ser as únicas a justificar algo disfuncional, o que faz com que se perpetuem interações com outras pessoas apesar das perceções já não estarem ajustadas com base em experiências anteriores, como se revíssemos as primeiras pessoas e não nos conseguíssemos dissociar. Os esquemas são também dimensionais, tendo diferentes níveis de severidade. Quanto mais invasivo, maior é o número de situações que o despoletam e mais intenso é o sentimento associado, baseado naquela ideia de “eu sou demasiado intenso” ou eu vivo em “8 ou 80”.

Vantagens deste tipo de terapia

É potenciada a capacidade de ver o problema como egodistónico, ou seja, não adaptativo, dando recursos para o combater e tornar a pessoa mais empoderada para quebrar o padrão. Há um combate aos esquemas, com técnicas que funcionam como antídoto contra as necessidades emocionais não satisfeitas na infância. Tem-se provado útil a tratar depressão crónica, ansiedade, perturbações alimentares, como anorexia, dificuldades conjugais e de prevenção de recaída de dependências. A versão que se visa estimular e que todos temos presente, apesar de nem sempre ser aquela a que se consegue chegar é a de adulto saudável, cujo propósito se pode descrever com as várias funções: nutrir, afirmar e proteger a versão criança em cada um; traçar limites para a raiva e impulsos e moderar impacto de estilos de enfrentamento disfuncionais. Por fim, uma ferramenta de intervenção muito importante é a própria relação terapêutica, como se fosse a casa em que as mudanças se desenrolam, um espelho do ciclo que a pessoa perpétua com todas as outras com que se relaciona. Nem sempre é fácil sentir que se pode construir relações saudáveis, de confiança e com este tipo de abordagem o caminho é mesmo esse para se atingir a sensação de casa, esteja com quem estiver.

Lúcia Menezes

Neuropsicóloga

Imagem Por, René Magritte, “La Couseuse”

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